quarta-feira, 18 de maio de 2016

Caro Getho,


É repugnante o que fizeram com você. Causa indignação e vergonha. Com certeza não foi isso que você sonhou quando veio para Foz do Iguaçu. Muito menos para a UNILA, a Universidade da Integração! Tampouco foi isso que imaginávamos quando vocês chegaram, cheios de esperança, dispostos a recomeçar a vida. Como você sabe, essa não foi a primeira manifestação odiosa de racismo contra os haitianos. Sinto informar que não será a última. Vocês devem estar conscientes e preparados para o que vão enfrentar no futuro próximo, nestes tempos de crispação golpista e regressão autoritária. Preste atenção no que eu vou te dizer, Getho: você poderia estar morto neste momento. Companheiros seus, que chegaram antes ao Brasil, foram assassinados. Morreram assim como você poderia ter morrido, por acaso, sem motivo aparente. Saiba que o ódio dos teus agressores é irracional e ilimitado. Chamá-los de fascistas seria incorreto, pois implicaria atribuir-lhes uma ideologia que eles são incapazes de entender. Como os animais predadores, eles agem por instinto. Não raciocinam. Mas graças a todos os deuses você não morreu. Você está vivo Getho! Teu sonho sobreviveu, e você seguirá adiante. Mas tome muito cuidado. O Brasil  é um país perigoso. Além de Administração Pública, carreira que você escolheu cursar na UNILA, você teve nessa semana uma aula prática dos perigos que te rodeiam. Que ameaçam a todos vocês. A todos nós. A intolerância racial é uma patologia da alma, uma doença do espírito. Frantz Fanon, com sua autoridade de médico-pesquisará, sabia o quanto essa doença contagiosa havia penetrado a alma do homem branco, rico e macho. Teus agressores estão doentes. Sofrem dessa moléstia contagiosa. Eles agem por instinto selvagem. Imaginam que podem espancar qualquer um que encontram pela frente. Principalmente se forem negros, índios, gays, mulheres, velhos e pobres. Pertencem muito provavelmente a uma classe média inculta e vazia, invejosa dos ricos e temerosa dos pobres. Eles estão inseguros por conta das Jéssicas, as filhas das domésticas que passaram a tomar o lugar deles nas universidades. Uma classe média cada vez mais medíocre, consumista, individualista. São uns verdadeiros Zé Ninguém, eterna massa de manobra dos fascistas. Trabalhadores, Getho, não permanecem nos bares até às 5 h da madrugada. Trabalhadores de verdade, como você sabe por experiência própria, trabalham. Como fizeram teus avós, teus pais e teus ancestrais africanos que foram trazidos à força para cá. Que nasceram, cresceram e morreram trabajando, trabajando, trabajando sí. Por toda la vida trabajando. Os imbecis que te agrediram desconhecem os valores do trabalho. Se trabalham, o fazem mecanicamente, desprovidos da consciência de sua dignidade como trabalhadores, reféns do fantasmagórico fetiche das mercadorias que habitam seus cérebros vazios e consumistas. Sabe por que eles te odeiam Getho? Porque eles têm medo de você, da vida que pulsa em você, do menino que eles não esganaram quando te agrediam covardemente. A tua altivez incomoda a todos eles, a todos os racistas que não te toleram como eles. Eles invejam a tua dignidade. Ela contrasta enormemente com a estreiteza do caráter deles. Por isso eles te odeiam tanto. Por isso eles têm medo de você. Eles temem tua beleza étnica. Temem tua cultura diversa. Temem teu cosmopolitismo. Nascidos e criados nesses incultos campos de soja, regados a juros subsidiados e a agrotóxico das multinacionais, eles têm o horizonte espiritual das Feiras do Agronegócio. Getho, vamos fazer um trato. Neste triste dia da Bandeira, uma das datas nacionais mais importantes do seu país, vamos combinar entre nós todos que estamos aqui na UNILA, brasileiros, peruanos, chilenos, salvadorenhos, cubanos, colombianos, paraguaios, equatorianos, uruguaios, bolivianos, argentinos, venezuelanos e haitianos, claro, que não vamos descansar enquanto os teus agressores não forem identificados e punidos. Eles são criminosos. Deve haver imagens e testemunhas da agressão que fizeram a você. Vamos encontrá-los e dar a eles o direito de defesa que eles não deram a você enquanto te agrediam. Vamos exigir das autoridades nacionais que eles sejam identificados e presos. Assim espero. É o mínimo que podemos fazer diante da  humilhação que te impuseram. Que impuseram a todos nós. Um forte abraço, meu caro amigo! 


José Renato Vieira Martins
Professor de Ciência Política e Sociologia 
Universidade Federal da Integração Latino-Americana UNILA


Foz do Iguaçu, 18 de maio de 2016

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A bomba é 'caseira' e o tiro é de 'chumbinho'.


                                                                                                                              Por: José Renato Martins.


Dois atentados acontecem e o que a mídia faz? Minimiza a gravidade dos fatos. A história mostra o que acontece quando nos calamos diante do fascismo.



                                                                                                                                           





                                                                                                                              Créditos da foto: Laura Daudén/ Conectas.Org




O ódio inoculado há anos na população é um dos grandes responsáveis pela escalada da intolerância, do racismo e da xenofobia que estamos assistindo no Brasil. O atentando contra o Instituto Lula e a agressão contra os haitianos em São Paulo são manifestações do mesmo tipo de irracionalidade.
 
Os dois acontecimentos me concernem pessoalmente. Há dois anos, como professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA, pesquiso a presença dos haitianos no Brasil. Há quatro, faço parte da equipe de colaboradores do Instituto Lula.  
 
A versão da grande imprensa sobre a “bomba caseira” lançada no Instituto foi uma tentativa canhestra de minimizar a gravidade do atentado. Em qualquer país democrático, a imprensa daria ampla cobertura e repercussão ao “episódio”, em vez de diminuí-lo ou ocultá-lo como fizeram alguns veículos de comunicação.
 
Não vi nenhum editorial condenando o gesto, cuja dimensão simbólica atingiu em cheio não só o Instituto como a própria democracia. Silêncio total. Eloquentes colunistas, normalmente tão loquazes sobre assuntos menores, não escreveram uma linha ou disseram uma palavra repudiando o atentado. 
 
Silêncio similar se produziu agora em torno da agressão aos haitianos em São Paulo. 
 
Há atualmente na UNILA cerca de 80 jovens haitianos. O ingresso desses estudantes na Universidade corresponde a ajuda humanitária que o Brasil dedica ao Haiti. O país, que é um dos mais pobres do mundo, ainda não se recuperou totalmente do terremoto que matou mais de 300 mil pessoas em 2010.
 
Os haitianos que vieram para o Brasil estão concentrados nos estados do sul e sudeste. No Paraná, onde pesquiso a integração desses migrantes, a maioria está empregada na indústria da alimentação e na construção civil. Há anos falta mão de obra nos dois setores, e por isso empresários paranaenses foram buscá-los no Acre. Eles não roubaram o emprego de nenhum trabalhador brasileiro. Os dados da pesquisa revelam que eles ocupam vagas ociosas – fazem parte da solução e não do problema.
 
Assim como fizeram os imigrantes europeus que chegaram ao Brasil no início do século passado, os haitianos contribuem economicamente com o país. Além disso, são seres humanos que passam por dificuldades. Merecem respeito e solidariedade. Nem mesmo o mais grave distúrbio mental explicaria qualquer tipo de agressão contra pessoas frágeis e inofensivas como eles. E, no entanto, seis haitianos foram alvo de vil atentado em São Paulo. 
 
É o mesmo ódio, a mesma intolerância, fundadas no racismo e na ignorância.   
 
A grande imprensa, que demorou inexplicavelmente a divulgar a agressão contra os haitianos, agora nos informa que eles foram alvo de disparos de “espingarda de chumbinho”. Não houve o emprego de arma de fogo. Novamente minimizam a gravidade do ato, mesmo sabendo que dois dos atingidos provavelmente passarão por cirurgia.
 
Por trás disso tudo existe um óbvio subtexto, cujo objetivo é anestesiar o incauto leitor. A bomba é “caseira” e a espingarda é de “chumbinho”. Relaxa, não é tão grave assim.
 
A história mostra o que acontece quando os liberais flertam com o fascismo. Depois de destruir os partidos de esquerda e os sindicatos dos trabalhadores, é contra eles que os bandos fascistas se voltam. Que reflitam um pouco, e parem de inocular o ódio e a intolerância enquanto é tempo.  
 
José Renato Vieira Martins, professor adjunto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (renatovieiramartins@gmail.com)

Convite!!!!


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Programa Complicações discute a imigração haitiana para o Brasil.


O Programa Complicações do Estúdio Univesp, traz entrevistas, debates, notícias e matérias especiais na tela da UNIVESP TV. 


Desta vez, o programa trouxe para discussão a imigração dos haitianos no Brasil. A ideia é analisar esta questão e traçar comparações com outros movimentos imigratórios mundiais, como o dos africanos para a Europa. 

Para discutir o tema, participaram da conversa nossa admirável professora Maria Adélia de Souza  (professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e integrante de nosso grupo de pesquisa) e Roberta Guimarães Peres (pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp)

No dialogo se constrói um rico debate proposto pelo programa e dialogado pelas pesquisadoras nos eixos que se permeiam na Diáspora Haitiana. 

Boa aula! 



Parte 1: 




                 Parte 2 :


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Audiência Publica: "A situação dos Haitianos no Brasil".

Para os que não conseguiram acompanhar:
03/08/2015 - 09:00


           CDH : Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa


Debater sobre: "A situação dos Haitianos no Brasil". 

Convidados:
Nilson Mourão
Secretário de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Acre
Beto Ferreira Martins Vasconcelos
Secretário Nacional de Justiça - Ministério da Justiça
Luiz Alberto Matos dos Santos
Coordenador do Conselho Nacional de Imigração – Ministério do Trabalho e Emprego
Alix Georges
Centro de Apoio e Orientação ao Haitiano de Porto Alegre
Carlos Alberto Simas Magalhães
Embaixador - Subsecretário Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior - Ministério das Relações Exteriores - MRE
José Maria de Almeida
Membro da Coordenação Nacional do CSP-Conlutas
Paulo Roberto Martins Maldos
Secretário Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos - SDH
Fedo Bacourt
Representante da União Social dos Imigrantes Haitianos
Irmã Rosita Milesi
Diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos – IMDH









































quinta-feira, 25 de junho de 2015

"Um pais miserável, analfabeto e com raízes tribais, africanas, barbaras", essas foram as palavras usadas para definir o Haiti pelo jornalista e colunista do jornal O Globo - Arnaldo Jabor.


"Um pais miserável, analfabeto e com raízes tribais, africanas, barbaras", essas foram as palavras usadas para definir o Haiti pelo jornalista e colunista do jornal O Globo - Arnaldo Jabor. 


É vergonhoso e indignante ver esse tipo de atitude ser "aceita" frente a mídia nacional; nesse caso especifico usando o exemplo do Haiti, para reafirmar um preconceito que durante anos vem se camuflando nos moldes de uma sociedade excludente. 

Comentários como este não poderiam ficar impunes, é preciso se posicionar e negar essa mídia que se baseia e propaga o puro racismo e xenofobia. 

Esta realidade traz seus frutos diários e se manifesta de diversos modos; como no caso daquele suposto militar reacionário na cidade de Canoas - região metropolitana de Porto Alegre - Rio Grande do Sul, que agrediu verbalmente um trabalhador imigrante do Haiti em um posto de gasolina, afirmando que a sua vinda ao Brasil retirava trabalhos que deveriam ser destinados exclusivamente a brasileiros. A exemplo disso dá-se as condições de exploração da mão-de-obra haitiana no mercado de trabalho brasileiro, estes que migram em busca de empregos e melhores condições de vida. 

As palavras deferidas por Jabor negam uma história, construída com coragem, luta e sangue de muitos escravos, onde em 1 de Janeiro de 1804 nasce à 1ª Republica da América Latina, à 1ª Republica Negra do Mundo.











terça-feira, 16 de junho de 2015

Vídeo documentário: Diáspora Haitiana - da utopia à realidade.

Queridxs, é com grande satisfação que o Grupo de Pesquisa: Migrações, Dinâmicas Territoriais e Integração Regional apresenta o seu vídeo documentário. 

A partir deste esperamos que todxs possam entender um pouco mais da pesquisa e do contexto vivenciado pela migração Haitiana na cidade de Cascavel, Paraná. 

Agradecemos a todxs que participaram na produção deste trabalho, em especial ao Valando Lúberisse, a Claridine Lúberisse, ao Benile Isidor e ao Sindicato da Alimentação de Cascavel.



Merci.